Pular para o conteúdo principal

LEUCEMIA MIELOIDE CRÔNICA




 Definição

A Leucemia Mieloide Crônica (LMC) é uma enfermidade que acomete toda a linhagem das células-tronco hematopoiéticas, exceto os Linfócitos T, a partir de um distúrbio clonal. Ou seja, células indiferenciadas da Medula Óssea propagam-se inadvertidamente. Tais células mieloides se acumulam na Medula ou se disseminam pelo sangue, podendo, dessa forma, alcançar outros órgãos.


Epidemiologia

Relativo à epidemiologia, a LMC representa cerca de 14% de todas as leucemias e, no Brasil, apresenta uma taxa de 1.6 casos anuais por 100 mil habitantes. Ademais, atesta-se maior prevalência em homens com mais de 55 anos, sendo 64 anos a idade média de diagnóstico. Em acréscimo, vale ressaltar que crianças e jovens são raramente diagnosticados.


Fisiopatologia

Ainda que os fatores etiológicos sejam desconhecidos, a patogenia da LMC já foi amplamente descrita: após a translocação indevida entre os genes abl do cromossomo 9 e bcr do cromossomo 22, o gene resultante, bcr-abl, é um codificador de proteína tirosina quinase ativada. Nesse sentido, a atividade descontrolada dessa quinase é responsável por acionar fatores de crescimento não sinalizados e por inibir a ação apoptótica. Tal desordem será causadora de uma excessiva produção e maturação de células precursoras, da Medula Óssea hipercelular e da hematopoiese extracelular.


Clínica

Sob uma ótica clínica, é possível categorizar a LMC em três fases distintas: Estável, Acelerada e Crise Blástica. A fase Estável, nesse sentido, é, muitas vezes, longa e assintomática, uma vez que pode se estender por 3 a 5 anos e apresentar sintomas inespecíficos -fraqueza, sudorese, perda ponderal, palidez, fadiga e esplenomegalia. Além disso, essa fase pode ser caracterizada por menos de 5% de mieloblastos na Medula Óssea e por leucocitose. Quanto à fase Acelerada, anemia crescente, trombocitopenia, agravo da esplenomegalia, sudorese noturna, febre, perda ponderal e dores ósseas são fortes indicadores da patologia. Nessa perspectiva, ela ainda se apresenta com 5 a 20% de blastos medulares e com uma grave redução da sobrevida média. Por fim, a Crise Blástica, com mais de 20% de blastos na Medula Óssea ou no sangue periférico, expressa-se de forma similar a Leucemia Mieloide Aguda.


Diagnóstico

Quanto ao diagnóstico, ainda que a análise clínica de tais sinais e sintomas, acrescida dos exames laboratoriais de taxas de plaquetas, leucócitos, blastos e basófilos, seja um importante marcador para a enfermidade, o diagnóstico definitivo é estabelecido pela presença de translocação bcr-abl, no sangue ou na Medula Óssea, a partir de um PCR.


Tratamento

Por fim, o tratamento varia de acordo com a fase da LCM. Para pacientes em fase Estável, é recomendado o uso de inibidores de tirosina quinase, como o Imatinib, Nilotinib, Dasatinib ou Bosotinib, ou, em casos de pacientes jovens ou resistentes a terapêutica medicamentosa, o transplante alogênico de celulas tronco. Cabe, ainda, referenciar possíveis efeitos colaterais do uso de Imatinib: náuseas, exantemas, cefaleia, diarreia, retenção hídrica e citopenias. Em outra perspectiva, para pacientes em fase Acelerada, não só o Interferon é acrescido às intervenções já citadas, como também é necessário o controle da Leucemia com quimioterapia antes do Transplante Autólogo de Células-Tronco. Em fase Crítica (ou Crise Blástica), são administradas altas doses de Imatinib e é iniciado o tratamento paliativo.


Referências

Manual de oncologia de Harrison / Bruce A. Chabner, Dan L. Longo ; tradução: Patrícia Lydie, Ademar Valadares Fonseca; revisão técnica: José Luiz Miranda Guimarães. – 2. ed. – Porto Alegre : AMGH, 2015. 

KUMAR, V.; ABBAS, A.; FAUSTO, N. Robbins e Cotran – Patologia –. Bases Patológicas das Doenças. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010; 

ONCOGUIA, Equipe. Estatística para Leucemia Mieloide Crônica (LMC). Disponível em: http://www.oncoguia.org.br/conteudo/estatistica-para-leucemia-mieloide-cronica-lmc/7983/336/. Acesso em: 17 jul. 2021. 

ABRALE. Epidemiologia: leucemia mieloide crônica (lmc). Leucemia Mieloide Crônica (LMC). Disponível em: https://www.abrale.org.br/doencas/leucemia/lmc/epidemiologia/. Acesso em: 17 jul. 2021. 

Imagem: Disponível em: http://hemoclass.com.br/mostrar-blog/leucemia-mieloide-aguda-m1/118. Acesso em: 27 set. 2021. 


IMPORTANTE! Em caso de suspeita dessa patologia, a LAON recomenda a busca por um profissional especializado. Este é um portal de democratização da informação, não dispomos de intenções diagnósticas ou quaisquer condutas similares.


Autoria: Gabriel Souza Fontes Ayres e Walter Lima de Barros Neto

Revisores: Raiza Torres e Victória Rodrigues




Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

RASTREAMENTO DO CÂNCER DE PULMÃO

  INTRODUÇÃO A realização de exames clínicos em pessoas assintomáticas com o objetivo de identificar determinada doença em fase inicial é chamada de rastreio, rastreamento ou screening. Essa prática deve sempre levar em consideração os possíveis benefícios e malefícios para a população rastreada, devendo, evidentemente, os benefícios superarem os malefícios. Muito presente na oncologia, o rastreamento é utilizado na detecção de algumas neoplasias em fase subclínica, como é o caso do rastreamento do câncer de pulmão.  EPIDEMIOLOGIA O câncer de pulmão  é o mais incidente no mundo (desde 1985) e o quinto mais incidente no Brasil, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA). Apesar da alta incidência em território brasileiro, não existe um programa de rastreio para a neoplasia de pulmão. O INCA ressalta que, de acordo com as evidências científicas atuais, o rastreamento com tomografia com baixa dose (TCBD) em pessoas acima dos 55 anos de id...

SÍNDROME DA VEIA CAVA SUPERIOR

  INTRODUÇÃO A síndrome da veia cava superior (SVCS) resulta de qualquer condição que leve à obstrução do fluxo sanguíneo através da veia cava superior (VCS). A obstrução maligna pode ser causada por invasão direta do tumor na VCS ou por compressão externa da VCS por um processo patológico adjacente envolvendo o pulmão direito, linfonodos e outras estruturas mediastinais, levando à estagnação do fluxo e trombose. Em alguns casos, tanto a compressão externa quanto a trombose coexistem. Além disso, os pacientes com malignidade têm um risco maior de trombose venosa quando utilizam dispositivos venosos de demora (por exemplo, cateter venoso central, marca-passo). Embora a invasão direta ou compressão externa do tumor já tenha sido responsável pela maioria dos casos de síndrome SVCS em pacientes com câncer, a incidência geral dessa relacionada a dispositivos intravasculares aumentou, agora representando 20 a 40% dos casos. Esta revisão se concentrará na fisiopatologia, etiologia, ...

LEUCEMIA MIELOIDE AGUDA

  DEFINIÇÃO Leucemia Mieloide Aguda (LMA) é o câncer que se desenvolve a partir dos precursores mieloides da medula óssea. Mas quais são esses precursores? São células-tronco que darão origem a alguns tipos de  leucócitos, hemácias e plaquetas.     EPIDEMIOLOGIA E ETIOLOGIA Mais comum em adultos, a incidência de LMA  aumenta com a idade e é diagnosticada com mais frequência em idosos. Na maioria dos casos de LMA, principalmente os primários, o fator desencadeante da doença é desconhecido. Em contrapartida, a LMA secundária está relacionada a outras doenças mieloides ou ao tratamento quimioterápico.Também são fatores de risco, às doenças genéticas e exposição ambiental ou ocupacional aos carcinógenos. FISIOPATOLOGIA Assim como ocorre em outros tipos de câncer, na LMA são necessárias mutações genéticas que permitam a transformação e a progressão da doença. No caso da LMA essas mutações ocorrem em uma célula precursora mieloide e são de duas natur...