Pular para o conteúdo principal

CÂNCER GÁSTRICO

 


Imagem 1. Ilustração do Câncer de Estômago




INTRODUÇÃO

O câncer gástrico ou de estômago é a quarta neoplasia mais comum entre os homens e a sexta entre as mulheres, de acordo com estimativas de 2019 do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA). A maioria dos casos ocorre em idade superior a 50 anos e é mais incidente em regiões com baixo nível socioeconômico.

FATORES DE RISCO

O principal fator de risco para o câncer de estômago é a infecção pela bactéria Helicobacter pylori, que é responsável por 0,1 a 3% dos casos em infectados. Quando não tratada, a infecção crônica inicia um processo carcinogênico que leva à neoplasia do estômago. Pessoas com parentes de primeiro grau com histórico de câncer gástrico são mais propensas a desenvolverem esse tipo de neoplasia. Predisposição genética, como no caso da síndrome do Câncer Gástrico Difuso Hereditário, também aumenta o risco de ter um câncer do estômago. Dieta rica em sal, obesidade, tabagismo, etilismo, cirurgia gástrica prévia, infecção pelo Vírus Epstein-Barr (EBV) também são fatores de risco.

Infelizmente, na maioria dos casos, as manifestações clínicas do câncer gástrico só aparecem em fase avançada da doença e quando presentes são inespecíficas e vagas, o que dificulta o seu diagnóstico precoce e diminui a chance de cura. Quando sintomático, o paciente pode apresentar dor ou desconforto abdominal, disfagia, náusea, saciedade precoce, linfonodomegalia em região axilar esquerda ou supraclavicular esquerda, entre outros. Também é muito importante estar atento aos sinais de alerta que apontam para o diagnóstico de neoplasia, são eles: anemia, perda ponderal não intencional, hiporexia e melena.

RASTREIO

Uma estratégia importante para o diagnóstico precoce do câncer é o rastreamento, porém, sempre devemos colocar na balança os riscos e benefícios de um rastreio. Dentre os benefícios, podemos ter um melhor prognóstico da doença, tratamento mais efetivo e menor morbidade associada. Já os riscos, incluem resultados falso-positivos que resultam em ansiedade e resultados falso-negativo que resultem em uma uma falsa tranquilidade.

Atualmente, para o câncer gástrico, não foi evidenciado que o rastreamento traga mais benefícios do que riscos, e por isso ele não é recomendado no Brasil. Apesar disso, recomenda-se que o diagnóstico precoce seja feito a partir da busca e investigação quando alguns sinais e sintomas estão presentes como:

- Massa em abdômen superior

- Dispepsia

- Disfagia

- Epigastralgia

- Perda de Peso

- Hiporexia

- Refluxo


DIAGNÓSTICO

Para realizar o diagnóstico, o exame padrão ouro é a endoscopia digestiva alta (EDA) com biópsia. Deve ser solicitado sempre que o paciente apresentar idade superior a 45 anos com síndrome dispéptica recente com falha de tratamento de antissecretores e na presença de sintomas e sinais mencionados anteriormente.

Imagem 2. Endoscopia Digestiva Alta

Fonte: Endoclin Tecnologia Endoscópica

Outro exame disponível e que pode ser realizado de forma complementar é a Tomografia Computadorizada (TC) de abdome e pelve com contraste e a radiografia de tórax. Ambos serão importantes para realizar o estadiamento, evidenciando principalmente se há metástase ou não.

A ultrassonografia endoscópica é um exame de grande acurácia (80 a 90%) e também é importante quando é necessário determinar a profundidade de invasão do tumor e fazer uma avaliação linfonodal, podendo também evidenciar sinais de comprometimento metastático. Já os marcadores tumorais como o CEA e CA 19.9 não são úteis para diagnóstico, porém quando elevados podem ser utilizados como informações adicionais para o seguimento e avaliação da resposta ao tratamento.


TRATAMENTO

Atualmente existem diferentes tipos de tratamento disponíveis para o câncer gástrico. O tratamento que tem como objetivo de cura é a cirurgia, realizada tanto por uma gastrectomia total ou subtotal ou ainda, por ressecções endoscópicas quando o tumor está restrito à mucosa em estágios mais iniciais. Alguns fatores são essenciais para determinar qual técnica será usada, como a localização e tipo histológico. Quando o tumor está localizado nos terços proximal e médio do estômago ou classificados como difuso, a técnica utilizada será a gastrectomia total com reconstrução tipo esofagojejunostomia terminolateral em y-de-Roux.




Imagem 3. Gastrectomia Total com reconstrução esofagojejunostomia terminolateral em y-de-Roux.

Fonte: Cirurgia do Câncer de Estômago


Já tumores que se localizem no antro ou no terço distal do estômago serão tratados com a gastrectomia subtotal e reconstrução a Bilroth II (gastrojejunostomia).



Imagem 4. Gastrectomia Subtotal com reconstrução a Bilroth II.

Fonte: Cirurgia do Câncer de Estômago

Outro ponto importante, e que faz parte do tratamento cirúrgico, é a ressecção linfonodal que deve ser feita junto com a gastrectomia.

Nos pacientes com a doença mais avançada com comprometimento de órgãos a distância, a abordagem terapêutica cirúrgica é apenas paliativa visando apenas corrigir complicações, como sangramentos ou obstruções. Nesse grupo, estudos recentes mostram que tratamentos sistêmicos como a quimioterapia vem evidenciando melhora tanto no controle dos sintomas como na melhora de sobrevida desses pacientes.

Uma nova estratégia terapêutica contra as neoplasias gástrica cada vez mais estudada é o anticorpo monoclonal, que são proteínas do sistema imunológico feitas em laboratório para identificar e atacar células cancerígenas específicas sem lesar células saudáveis ao mesmo tempo como na quimioterapia. Um exemplo é a droga transtuzumabe que é utilizada para tratar tumores gástricos metastáticos e que apresentam uma expressão elevada da proteína HER2.


REFERÊNCIAS

Gastric Cancer Treatment (PDQ®)–Patient Version. Disponível em: <https://www.cancer.gov/types/stomach/patient/stomach-treatment-pdq#_50>. Acesso em: 26 jul. 2022.

Cirurgia do Câncer de Estômago. Cirurgia Oncológica e Cirurgia Geral Dr. Daniel Paulino Santana. Disponível em: <https://www.drdanielpsantana.com.br/cirurgia-cancer-de-estomago>. Acesso em 05 de agosto de 2022

CHAN, Ane On On; WONG, Benjamin. Risk factors for gastric cancer. UpToDate. 2022. Disponível em: <https://www.uptodate.com/contents/risk-factors-for-gastric-cancer?search=fatores%20de%20risco%20para%20o%20cancer%20g%C3%A1strico&source=search_result&selectedTitle=1~150&usage_type=default&display_rank=1>. Acesso em 21 abr. 2022.

HOFF, Paulo Marcelo Gehm (ed). Tratado de Oncologia. Capítulo 118. SÃO PAULO: ATHENEU, 2013. 2829p.

INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA (INCA). Estimativa 2020: incidência do câncer no Brasil. Rio de Janeiro: INCA, 2019.

MANSFIELD, A. P. F. Características clínicas , diagnóstico e estadiamento do Câncer Gástrico. UpToDate. 2022. Disponível em: <https://www.uptodate.com/contents/clinical-features-diagnosis-and-staging-of-gastric-cancer> Acesso em: 16 de abril de 2022.

MARQUES, C.L.T.Q. Oncologia Uma Abordagem Multidisciplinar. Recife. Editora Carpe Diem. 2015.

Endoscopia Digestiva Alta. Endoclin Tecnologia Endoscópica. Disponível em: <https://www.endoclin.com.br/site/exames-e-procedimentos/endoscopia-digestiva-alta/>. Acesso em 05 de agosto de 2022.


AUTORES E REVISORES


Autores:



Nome: Lanna Barbosa

Acadêmica do 7º semestre

Sênior




Nome: Vanessa Pires Ramalho

Acadêmica do 6º Semestre

Diretoria de Ensino


Revisores:

Bruno Machado 
Gabriel Ayres

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

SÍNDROME DA VEIA CAVA SUPERIOR

  INTRODUÇÃO A síndrome da veia cava superior (SVCS) resulta de qualquer condição que leve à obstrução do fluxo sanguíneo através da veia cava superior (VCS). A obstrução maligna pode ser causada por invasão direta do tumor na VCS ou por compressão externa da VCS por um processo patológico adjacente envolvendo o pulmão direito, linfonodos e outras estruturas mediastinais, levando à estagnação do fluxo e trombose. Em alguns casos, tanto a compressão externa quanto a trombose coexistem. Além disso, os pacientes com malignidade têm um risco maior de trombose venosa quando utilizam dispositivos venosos de demora (por exemplo, cateter venoso central, marca-passo). Embora a invasão direta ou compressão externa do tumor já tenha sido responsável pela maioria dos casos de síndrome SVCS em pacientes com câncer, a incidência geral dessa relacionada a dispositivos intravasculares aumentou, agora representando 20 a 40% dos casos. Esta revisão se concentrará na fisiopatologia, etiologia, apre

SÍNDROME DA LISE TUMORAL

  INTRODUÇÃO  A Síndrome da Lise Tumoral (SLT) é caracterizada pela destruição maciça de células malignas e consequente liberação do seu conteúdo no espaço extracelular. Embora possa ocorrer de modo espontâneo, a SLT aparece, em geral, logo após o início do tratamento com agentes quimioterápicos citotóxicos. Uma vez liberados, estes metabólitos podem subjugar os mecanismos homeostáticos resultando em distúrbios metabólicos. Estas alterações biológicas podem levar à ocorrência de diversas manifestações clínicas, incluindo lesão renal aguda, convulsões e morte súbita, que podem requerer cuidados intensivos. 1 EPIDEMIOLOGIA  De acordo com o tipo de neoplasia e terapia utilizada, a incidência da SLT é variável, tendo uma mortalidade entre 29-45% em média.  A síndrome de lise tumoral tem sido relatada com neoplasias que raramente apresentavam estas complicações, como o câncer de endométrio, carcinoma hepatocelular e leucemia mieloide crônica. A síndrome de lise tumoral pode ocorrer em

CÂNCER E POPULAÇÃO NEGRA

  BASE DE DADOS Apesar de, por vezes, os problemas socioeconômicos adentrarem numa zona de falta de confiabilidade de dados, é importante ressaltar que há estudos muito bem realizados que demonstram como os fatores raça, poder aquisitivo e vulnerabilidade social afetam a saúde da população. Assim, antes de, de fato, falarmos dos dados já disponíveis, recomendamos a leitura do artigo “Acessibilidade da População Negra ao Cuidado Oncológico no Brasil: Revisão Integrativa”, caracterizado por uma análise de 13 estudos (coorte e transversal) que presta uma abordagem voltada para variáveis socioeconômicas para neoplasias de mama, próstata e cavidade oral. SAÚDE: DIREITO CONSTITUCIONAL A Constituição Federal brasileira de 1988 , em seu Art. 196, defende a saúde como direito de todos e dever do Estado, que deve se utilizar de políticas sociais e econômicas para reduzir riscos e agravos do bem estar populacional. Ainda assim, é indubitável que embora o Estado garanta no papel, na prática nem se