EPIDEMIOLOGIA
O câncer de pâncreas ocupa a posição de 14o neoplasia mais comum e a 7o causa de mortalidade associada ao câncer no mundo. É mais comum com o avanço da idade e nos homens do que nas mulheres, além de ser mais frequente em países desenvolvidos, com maior incidência na América do Norte e Europa Ocidental. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), o adenocarcinoma é o tipo mais comum de câncer de pâncreas, responsável por 90% dos casos diagnosticados e, geralmente, apresenta um prognóstico ruim, com sobrevida em 5 anos em menos de 2% dos diagnosticados. No Brasil, de acordo com o Atlas de Mortalidade por Câncer - SIM, em 2020 foram registrados 11.893 mortes por câncer de pâncreas, sendo 5.882 em homens e 6.011 em mulheres.
FATORES DE RISCO
A idade avançada constitui um dos maiores fatores de risco para o câncer de pâncreas visto que a doença é, com frequência, diagnosticada na faixa etária de 65-74 anos. É possível também identificar como fatores de risco hábitos de vida como o etilismo, tabagismo, consumo elevado de gordura, carne e bebidas gaseificadas açucaradas.
Os fatores hereditários também muito respondem pelo aparecimento desse tipo de neoplasia, sendo responsáveis por uma taxa entre 10% a 16% de todos os cânceres de pâncreas. Caso o paciente apresente um parente de primeiro grau, o risco é aumentado em 4,6 vezes; dois parentes de primeiro grau, 6,4 vezes; e mais de 3 parentes de primeiro grau, 32 vezes. Além disso, o risco também aumenta se um parente desenvolve câncer de pâncreas antes dos 55 anos de idade.
A pancreatite crônica não familiar está associada a um risco aumentado de câncer de pâncreas. E, existe uma relação, ainda não muito bem definida, entre o diabetes melito e o câncer de pâncreas: quando o indivíduo apresenta diabetes de início recente é necessário considerar o risco de câncer de pâncreas.
O sedentarismo e a obesidade também são associados a um risco aumentado para o desenvolvimento do CA de pâncreas.
FISIOPATOLOGIA
O câncer de pâncreas surge através de uma série de mutações na mucosa normal que levam ao aparecimento de diferentes graus de diferenciação celular originando lesões precursoras que normalmente culminam com um tumor invasivo. Os precursores mais associados ao desenvolvimento do adenocarcinoma pancreático são a neoplasia intraepitelial pancreática (NIpan), neoplasias mucinosas papilares intraductais (NMPI) e neoplasias císticas mucinosas (NCM).
A neoplasia intraepitelial pancreática é o precursor mais comum do adenocarcinoma de pâncreas, que consiste em uma lesão microscópica, não invasiva, que ocorre nos ductos pancreáticos menores. Acredita-se que essas lesões são resultantes de uma lesão epitelial que acabam originando um processo neoplásico.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
A apresentação clássica de um paciente com câncer de pâncreas consiste em dor abdominal ( geralmente dor mesoepigástrica) com perda de peso, com ou sem icterícia. É possível também o aparecimento de dor lombar. Outros aspectos incluem cor clara das fezes ou início de diabetes no ano anterior. A icterícia, detectada pela primeira vez com nível de bilirrubina de 2,5 a 3,0 mg/dL, está geralmente associada a tumor na cabeça do pâncreas e pode-se observar a ocorrência de prurido quando o nível de bilirrubina alcança 6 a 8 mg/dL.
Sinais físicos: icterícia, perda de peso, vesícula biliar palpável (sinal de Courvoisier), hepatomegalia, massa abdominal e aumento de tamanho do baço (geralmente indicando trombose da veia porta). Pode-se observar também a ocorrência de tromboflebite superficial migratória (síndrome de Trousseau).
Sinais de doença tardia: linfonodo palpável na fossa supraclavicular (geralmente do lado esquerdo), conhecido como nódulo de Virchow.
DIAGNÓSTICO
Não há sinais ou sintomas cuja presença seja sinônimo do diagnóstico de câncer de pâncreas. Na suspeita de um CA de pâncreas a investigação pode ser iniciada através de exames laboratoriais, como hemograma completo, pesquisa de transaminases, níveis de bilirrubina e do marcador tumoral CA-19.
Além dos exames laboratoriais também é realizado os exames de imagem. A ultrassonografia de abdome geralmente é o primeiro exame a ser solicitado, com o objetivo de avaliar as vias biliares, o pâncreas e a presença ou não de massas.
Caso o resultado da USG não seja esclarecedor ou tenha tido alguma alteração, o próximo exame a ser solicitado é uma Tomografia Computadorizada de Abdome, importante para avaliar a possibilidade de ressecabilidade do tumor.
A laparoscopia diagnóstica é indicada em casos quando a tomografia computadorizada não conseguiu fornecer informações suficientes para definir a conduta cirúrgica. A videolaparoscopia tem sido cada vez mais utilizada para evitar a realização de laparotomias desnecessárias, em virtude da sua crescente disponibilidade, baixa morbimortalidade cirúrgica e capacidade de fornecer uma avaliação muito detalhada sobre o tumor e sua relação com vísceras e vasos adjacentes.
O exame histopatológico é realizado após o procedimento cirúrgico nos pacientes indicados para a cirurgia. Em tumores irressecáveis, é possível realizar uma PAAF endoscópica ou percutânea para confirmar o diagnóstico e orientar o tratamento paliativo.
ESTADIAMENTO
O estadiamento constitui uma importante ferramenta que orienta o tratamento de um paciente diagnosticado com câncer, além de poder prever seu prognóstico. É possível através dessa classificação determinar aspectos do câncer, como sua localização e possível disseminação para outros sítios.
O sistema de estadiamento usado para o câncer de pâncreas é o sistema TNM, da American Joint Committee on Cancer (AJCC). Esse sistema utiliza três critérios:
T: O tamanho do tumor.
N: Disseminação para linfonodos.
M: Presença de metástases.
TRATAMENTO
A maioria dos pacientes com câncer de pâncreas são diagnosticados na fase tardia da doença, o que contribui para a estatística de que 80%-85% dos cânceres de pâncreas são irressecáveis, levando ao paciente iniciar o tratamento paliativo com o objetivo de fornecer uma melhor qualidade de vida, melhorando sintomas como icterícia e dores.
Em casos onde os tumores são ressecáveis existe a possibilidade de ser realizada a pancreatoduodenectomia (cirurgia de Whipple), uma ressecção clássica que abrange a vesícula biliar, o colédoco distal, 15 cm proximais do jejuno, todo duodeno, estômago distal
e a cabeça do pâncreas até o nível da veia mesentérica superior, além também de ser realizado uma linfadenectomia regional.
Existem diversas contraindicações absolutas à cirurgia curativa para tratamento do adenocarcinoma pancreático: metástases extra-abdominais, peritoneais ou hepáticas, oclusão pelo tumor ou trombose da artéria mesentérica superior, obstrução não factível de reconstrução na veia mesentérica superior, na veia porta ou na confluência entre a veia
porta e a veia mesentérica superior, afecção da veia cava inferior, aorta e plexo celíaco.
Além disso, outras possibilidades incluem a pancreatectomia total ou a pancreatectomia distal mais a esplenectomia.
Em alguns casos há a possibilidade de realizar o tratamento neoadjuvante através da quimioterapia, com o objetivo de diminuir o tamanho do tumor e facilitar a cirurgia.
PREVENÇÃO
A principal forma de prevenir o câncer de pâncreas é a adoção de um estilo de vida saudável, praticando atividades físicas regularmente e mantendo uma alimentação saudável, além de evitar a exposição ao tabaco passiva ou ativamente.
REFERÊNCIAS
SABISTON. Tratado de cirurgia: A base biológica da prática cirúrgica moderna. 19.ed.
Saunders. Elsevier
KASPER, Dennis L.. Medicina interna de Harrison. 19 ed. Porto Alegre: AMGH Editora, 2017.
CÂNCER DE PÂNCREAS. SanarFlix, 2022. Disponível em: https://www.sanarflix.com.br/. Acesso em: 25 de Julho de 2022.
CÂNCER DE PÂNCREAS. INCA, 2020. Disponível em: https://www.inca.gov.br/tipos-de-cancer/cancer-de-pancreas. Acesso em: 25 de Julho de 2022.
AUTORA
Nome: Amanda Almeida.
Diretora de extensão da LAON e estudante do quinto semestre da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSP).
Comentários
Postar um comentário